Às vezes os sonhos se realizam. Eu sonhava em visitar Machu Picchu, mas tinha medo da altitude de Cusco. Passava quase que diariamente pela vitrine da loja da TAM em Porto Alegre, nos Moinhos, onde estava estampada uma enorme foto de Machu Picchu e dizia para mim que um dia ainda iria lá. Ontem passei pela vitrine e falei: O sonho se realizou, eu estive aí.
Todas as minhas viagens tem sempre um objetivo especial. Procuro focar em alguma coisa que me desperta o interesse. No caso do Peru, país de muitos atrativos, minha atenção estava voltada para o mistério e a energia de Machu Picchu e para a história do oráculo de Pachacamac, nos arredores de Lima.
Machu Picchu se alcança de trem a partir de Cusco, cidade situada a 3.400 metros de altitude, que significa em idioma indígena o "umbigo do mundo". Cusco é uma relíquia arquitetônica colonial. Merece ser visitada e curtida.
Para ir a Machu Picchu preferi dormir num hotel pousada situado no Vale Sagrado dos Incas, às margens do rio Urubamba, maneira mais confortável de pegar o excelente trem Vistadome, com teto solar, que de lá leva apenas uma hora e meia de viagem no meio da cordilheira dos Andes, um panorama magnífico, com picos nevados de mais de cinco mil metros de altura.
Chega-se à localidade de Machu Picchu Pueblo ou , mais conhecida, como Aguas Calientes, onde fiquei hospedado por uma noite. De lá se parte para escalar Machu Picchu através de micro-ônibus que sobem cerca de quinhentos metros em estrada de terra, cheia de voltas, no meio de exuberante floresta tropical. Alcança-se a altitude total de 2.600 metros, portanto menos elevada do que Cusco.
De repente, ali na nossa frente está Machu Picchu, a misteriosa, enigmática e bela cidade perdida dos incas, intocada pelos espanhois, descoberta apenas no princípio do século pelo ingles Hiran Binghan.
Impossível descrever o impacto visual. Cada um sentirá de uma maneira diferente e pessoal. O que mais me chamou a atenção foi a forma com que os incas projetaram a cidade em harmonia com o ambiente que a cercava. Parece que os lugares e os terraços fazem parte do cenário majestoso e conseguem fazer com que as pessoas sintam a grandiosidade da natureza. Ali é como uma catedral da natureza. Dá vontade de rezar e de chorar de emoção.
Senti energia nela. A energia fluía com abundância. Entrava pela mão direita, percorria todo o meu corpo, e saía pela mão esquerda. Uma experiência emocionante. Pena que tinham outras pessoas perto. E´ algo que se curte individualmente.
Como disse, recarreguei as baterias. Estava, infelizmente, na hora de voltar para baixo. Os incas dividiam o seu mundo em tres partes e assim construiram a sua cruz. O mundo de cima era o superior, o mundo do condor. O do meio era o nosso, o das batalhas, o da sobrevivencia, o mundo do puma. O de baixo era o subterrâneo, o inferior, o das vilanias, das corrupções, era o mundo da serpente. Os sacerdotes destruiram a parte de cima da cruz dos incas também com receio de heresias, de maneira que a cruz ficou reduzida a tres degraus. Mesmo assim ali estavam retratados os tres mundos.